24.3.07

Werewolf by Night - By Valmar Oliveira


LOBISOMEM


A história de homens que se transformam em lobos é muito antiga. Na Grécia Antiga, o mito do homem-lobo, proveniente de épocas pré-históricas, se ligou a religião do Olimpo. Em Arcádia, uma região de lobos, existia o culto ao Lobo-Zeus. Em Roma também havia esta superstição.

No imaginário medieval europeu, os feiticeiros se transformavam em lobos para comemorarem os sabaths. As feiticeiras, por sua vez, usavam ligas de pele de lobo.

O lobo é um grande carniceiro que devora a matéria e o mundo. Mas este seu simbolismo de destruição e de devoração nos leva à concepção antagônica de renascimento e renovação. Só através da morte é que se renasce para uma nova vida. A planta brota do grão, somente depois que este se decompõe no seio da terra. A morte é portanto, o nascimento do novo.

Este animal também está ligado as trevas, possuindo a fama de ver à noite. Como Senhor das Trevas ele é seu guia e antídoto, pois pela sua devoração, antecipa o retorno da luz. Apresenta ainda, à associação com a "goela", imagem arquetípica e iniciática. O poder de sucção desta região está mitologicamente simbolizado pela sua força que alicia e domina o ser humano, a vida, a pessoa e a consciência, de que ninguém consegue livrar-se. A goela do lobo é a noite, as trevas, a caverna dos Infernos, mas a libertação da goela, é a aurora, a luz iniciática sucedendo à descida aos Infernos.

O sentido iniciático da "goela do lobo", dá a este animal o papel de psicopompo. Na mitologia egípcia, Anúbis tem a forma de um cão selvagem ou lobo. Em Cinópolis, era venerado como deus dos Infernos.

Na mitologia brasileira, o lobisomem apresenta-se como um grande cão negro, possuidor de olhos aterrorizantes vermelhos, com orelhas e unhas enormes. Já foi visto também, lobisomens com características de porco, com o corpo todo coberto de pelos e a cara lupina com grandes caninos projetados para fora da boca.

Contam as lendas que ser lobisomem é questão de destino, qualquer criança incestuosa, como também o filho de uma comadre com compadre ou padrinho com afilhada, podem vir a ser um. Nos pampas gaúchos, corre a história de que se o sétimo de um casal se deitar em algum lugar que o bicho ocupou, torna-se igual a ele. Há quem diga, que para ser lobisomem, basta ser o sétimo filho (caçula) de um casal ou o oitavo filho homem depois sete filhas mulheres.


Este mito em todas as regiões brasileiras mantém uma tradição: sua transformação ocorre sempre sexta-feira, em noite de lua cheia. Ele procura uma encruzilhada, despe-se e joga-se ao chão, rolando na poeira até transformar-se em homem-lobo. Da meia-noite até as duas da manhã, ele visita sete cemitérios, ou sete vales, ou sete outeiros, ou sete encruzilhadas. Como ele precisa de sangue, ao transformar-se, sai à cata de algum leitãozinho, um cachorro ou criança de colo.

O seu destino pode ser alterado, se alguém se atrever a fazer-lhe um ferimento com um espinho que o faça sangrar, ou queimando suas roupas abandonadas durante a metamorfose. Para desencantar um lobisomem, também pode-se feri-lo usando uma bala untada com cera de vela acesa durante três missas de domingo ou na Missa do Galo, rezada na meia-noite de Natal.

Há também uma forma de transmitir este fado: quando um lobisomem já velho, pressente que vai morrer e tem necessidade de passar seu cargo à outrem. Se alguém lhe fizer a simples pergunta: "Tu Queres?", desconfie, pois pode ser um lobisomem tentando lhe passar sua herança.

Existem também os lobisomens-assombrações, que são aqueles que morreram antes do cumprimento de seu fadário. Muito agressivos, apresentam-se na forma de um grande e feroz cão branco. Não se consegue matá-lo, só exorcizá-lo.


O mito lobisomem está muito vivo no Rio Grande do Sul e tem gerado muitas lendas locais, entre elas encontramos a história dos fios vermelhos na boca de um homem que, quando Lobisomem, atacou uma mulher que usava um "viso" de seda.

Em Porto Alegre, os moradores do bairro Cristal, afirmam que lá reside um homem que é Lobisomem. Em Alegrete vive outro. Em Gravataí, um senhor velho garante que teve uma briga feia com um, mas conseguiu feri-lo. Desconfiado de seu vizinho, fez uma visita de surpresa e lá estava o homem, todo retalhado, desculpando-se que se machucara nos espinhos do mato.

O número sete aparece constantemente em suas histórias, o que leva a caracterizar este mito com que Jung chama de Selbest, o lado escuro do inconsciente coletivo. Este lado sombra representa o lado mais reprimido do caráter, a parte que a maioria das pessoas prefere não encarar, pois é o lado do inconsciente monstruoso.