21.3.14

Projeto Narrativas Gráficas

A partir de 15 de março, o projeto Narrativas Gráficas passa a fazer parte do dia-a-dia da RV Cultura e Arte. Com ele virá uma série de atividades relacionadas a artes gráficas, com destaque especial  para as histórias em quadrinhos. Serão encontros de fãs, bate-papos e  sessões de autógrafos com artistas e autores, oficinas práticas e leituras de portfólio com editores e curadores, ao longo de 12 meses, para quem produz ou só se interessa pela temática. As atividades são todas gratuitas e abertas ao público, mas para participar das oficinas práticas será preciso se inscrever.

Atividades

O projeto Narrativas Gráficas está dividido em três blocos, cada um com uma temática distinta, que se intercalaram durante a programação de doze meses. Conheça cada um deles.

Na teoria

O primeiro bloco temático vai contar com bate-papos e palestras que demonstrem de forma teórica aspectos importantes da produção gráfica. Nesse sentido serão duas linhas principais de atividades: encontros para fãs de quadrinhos e encontros com profissionais. Nos bate-papos de fãs, mediados pelos integrantes do blog baiano Quadro-a-Quadro, o público poderá discutir temas ligados a nona arte como personagens, autores e obras, passando por uma série de marcos referenciais para a linguagem, oferecendo aos participantes, portanto, bagagem cultural para a recepção de novos produtos do gênero. Já no caso dos encontros com profissionais, a ideia é verificar relatos pessoais sobre processos criativos e discutir aplicações das artes gráficas em diferentes linguagens como nas artes plásticas, no cinema e nos quadrinhos, ampliando a percepção do público.

 Na prática

O segundo bloco será composto basicamente por workshops. Seram incluídas neste bloco duas oficinais de quadrinhos para crianças, cada uma com duração de quatro semanas, que apresentará uma ideia geral sobre as histórias em quadrinhos, contribuindo assim para a formação de novos leitores. Em paralelo, outros workshops serão oferecidos para jovens e adultos. Serão eles:”roteirizando uma narrativa”; “desenho para quadrinhos”; “técnicas de reprodução”; “encadernação”; “modelagem”; e “animação em stop-motion”. O objetivo destes workshops é criar oportunidades de produção lúdica para o público em geral, além de oferecer novas ferramentas para amadores e futuros profissionais.

 A Crítica

O terceiro bloco vai contar com bate-papos com editores e curadores, além de leituras de portfólio. Para este bloco o interesse é criar um diálogo entre quem produz e quem valida produtos relacionados as artes gráficas esperando, dessa forma, colaborar para a profissionalização em Salvador.

Convidados

Victor Mascarenhas é escritor e roteirista. Iniciou sua carreira literária em 2008, com “Cafeína” (Fundação Casa de Jorge Amado), livro vencedor do Prêmio Braskem Cultura e Arte. Em 2011 foi um dos finalistas do Prêmio Off FLIP, e lançou seu segundo livro: “A insuportável família feliz” (P55, coleção Cartas Bahianas). No cinema, escreveu e dirigiu o curta Pop Killer (1997) e foi um dos roteiristas do longa metragem “Esses moços” (2004). Em 2013, lançou seu primeiro romance, “Xing Ling made in China”, pela Solisluna Editora e na sequência assinou, juntamente com Cau Gomez, sua primeira experiência como autor de quadrinhos,  ”Billy Jackson”, publicada pelo selo RV Cultura e Arte .

Marcelo Cassaro é desenhista, roteirista, editor e escritor de ficção. Nascido em 1970, começou a carreira profissional em 1985, nos Estúdios Mauricio de Sousa, como animador assistente e auxiliar de design. Foi contratado pela Abril Jovem em 89, como roteirista e desenhista de quadrinhos para as revistas Os Trapalhões, Aventuras dos Trapalhões, Heróis da TV e outras. Foi vencedor do Prêmio Abril de Jornalismo em 91, 92 e 94, na categoria “Roteiro de História em Quadrinhos”. Assinou como editor e roteirista os seguintes trabalhos: Holy Avenger, com Erica Awano, primeira HQ brasileira com mais de 40 edições nas últimas três décadas; Victory, primeira HQ com roteiro e arte brasileiros publicada nos Estados Unidos, pela Image Comics; Lua dos Dragões, uma das mais premiadas minisséries em quadrinhos brasileiras; e a série DBride: A Noiva do Dragão, também com Awano. Em 95 começou a Dragão Brasil, primeira revista mensal especializada em jogos de RPG (RolePlaying Games) e única a completar mais de 100 edições. Foi autor de RPGs baseados em videogames como Street Fighter, Final Fight, Darkstalkers e Megaman. É também um dos autores de Tormenta, o mais bem-sucedido cenário de campanha para RPG no Brasil; e 3D&T, jogo de RPG baseado em mangá e anime.  Atualmente é roteirista do mangá nacional Turma da Mônica Jovem.

DW Ribatski é artista plástico, ilustrador e quadrinista. Já colaborou com diversas publicações, como o caderno Ilustríssima da Folha de S.Paulo e a revista Superinteressante, entre outras. Nas HQs, publicou “Como na quinta série” (Balão Editorial, 2012), “La naturalesa” (coleção MIL, Cachalote/Barba Negra, 2011), “Vigor Mortis” (Quadrinhofilia/Zarabatana Books, 2011, com José Aguiar e Paulo Biscaia) e mais recentemente “Campo em Branco” (CIA das Letras, 2013, com Emilio Fraia).

Para se inscrever, clique aqui.

5.3.14

Baianos fazem quadrinhos por amor

Profissionais falam sobre as dificuldades de se trabalhar com quadrinhos, sobre os preconceitos e as alternativas para quem deseja investir na área

Thuanne Silva (Impressão Digital)

Apesar de existirem muitos que trabalham com os quadrinhos, tirar deles o sustento é bastante difícil, principalmente para os talentos locais que trabalham de forma independente na Bahia.  “O principal desafio de se trabalhar, especialmente no Bahia, é ter como manter e bancar isso. Raros vivem de sua arte”, explica Valmar Oliveira. Falta de apoio, visibilidade e respeito são as principais dificuldades apontadas por ele. “Todos que fazem quadrinhos na Bahia, fazem por que gostam, por amor. Não há respeito para quem faz isso por aqui, somos vistos como loucos, excêntricos, nerds, abobados, etc. Resta cairmos para o ramo da ilustração, propaganda, cartilhas, educação”.

Valmar Oliveira

Não faltam publicações brasileiras, porém, os artistas reclamam que há a preferência pelo quadrinho estrangeiro no mercado nacional. “O mercado brasileiro underground, independente, tem muitas publicações, muitos bons autores, mas o público em sua grande maioria prefere o quadrinho estrangeiro”, opina Valmar. Luís Augusto concorda: “Creio que o mercado nacional ainda tem os olhos muito voltados para o que é produzido fora e não vê estímulos para desenvolver parcerias com artistas locais e fortalecer os nossos próprios talentos e produções”.

Novos caminhosMarcelo Lima concorda que é uma área difícil na Bahia, mas que afirma que consegue ganhar dinheiro com os roteiros que faz devido aos editais ou criando para instituições. “Neste momento, por exemplo, eu, mais um desenhista e um colorista recebemos uma ótima bolsa de criação para adaptar o romance O Bicho que chegou a Feira, de Muniz Sodré, uma ficção sobre a ditadura no interior da Bahia. O projeto foi proposto por nós e aprovado no Fundo de Cultura da Bahia”. Para o historiador e criador do blog Quadro a Quadro, Lucas Pimenta, os editais públicos e sites de financiamento coletivo como o Catarse são novos caminhos para a produção nacional.

 
Luís Augusto e seu filho, Ben

Apesar desses tipos de financiamento, ainda há a dificuldade de distribuição. “Muitos grandes talentos nossos tem conseguido produzir, de modo praticamente artesanal, a partir de leis de incentivo, edições muito bem feitas de seus trabalhos, mas estes mesmos artistas tem uma dificuldade enorme em fazer a distribuição deste trabalho”, avalia Luís Augusto. Esta nova geração tem se movimentado bastante com a ajuda das redes sociais. “Muitos estão conseguindo se unir e encontrar espaços para expor e divulgar sua arte, trocar experiências e continuar acreditando”, opina. “Nos dias de hoje, já não dependemos mais da publicação impressa e muitos artistas tem se mostrado através da Internet e nela, alguns tem milhares de seguidores, e só depois do sucesso virtual, esses artistas estão publicando seus livros”, comenta Lucas Pimenta.

Escolas e universidades – Apesar de ainda existir preconceito com relação aos quadrinhos, atualmente, eles estão se inserindo cada vez mais nos ambientes de ensino, como em escolas e universidades. “No exterior já existem cursos em faculdades voltados para esse universo. Aqui tudo caminha a passos lentos, mas pouco a pouco acabaremos com esse preconceito”, avalia Valmar Oliveira, que além de quadrinista, realizou seu TCC e especialização relacionados ao tema.

“A pesquisa acadêmica tem demonstrado a complexidade desta arte e revelado o quanto de potencial narrativo ela possui. Um fator interessante é o surgimento de professores-quadrinhistas, algo comum em cursos como Artes Visuais, Teatro, Cinema, etc”, comenta o jornalista e roteirista Marcelo Lima.  Já Lucas Pimenta, como admirador e fã dos quadrinhos, utiliza-os nas aulas de História que ministra, mas reforça que ainda há preconceito, mesmo por parte dos jovens. “Como professor, gosto muito de usar quadrinhos em sala de aula e até mesmo entre os jovens, nem sempre os quadrinhos são bem aceitos”, revela. Porém, ele reconhece a presença dos quadrinhos nos meios acadêmicos.  “A verdade é que a academia tem abraçado outros objetos de estudo. Os quadrinhos, o cinema, o teatro, entre outros, figuram várias teses acadêmicas a cada ano que passa”.

Impressão Digital: produto laboratorial da oficina de jornalismo digital - Facom | UFBA (publicado em 09 de setembro de 2013)