Por que jovens de classe média cometem crimes
Por Irany Ferreira
A mídia vem noticiando envolvimento de jovens da classe média em assaltos e troca de tiros. Fora que nos últimos cinco anos aumentou o número de assassinatos dos pais pelos filhos. Isso significa que os mecanismos de defesa da classe média estão falhando. Aceitação de limites, respeito e amor aos pais estão caindo por terra. Sem querer ser alarmista, mas é um sinal de alerta: os mecanismos destrutivos estão mais intensos do que os construtivos.
Lembro-me de um jovem que já havia sido preso por ter roubado um CD player de carro e que cumpria pena comunitária.
Essa família sofria um desgaste vincular tanto entre os pais, como entre o filho e o pai e o filho e a mãe. Eram agressões mútuas, abandono e desinteresse de uns pelos outros. Praticamente já não funcionava uma família com seus valores e hierarquias organizados.
Não havia mais diálogo, apenas monólogos, onde os pais faziam suas colocações e, o filho calado e cabisbaixo, não exteriorizava o que pensava e sentia.
Ficava claro que cada um se voltava mais para seu mundo pessoal do que para o vincular. O jovem era o que mais perdia no desempenho de seu papel. Parecia desinteressado por si mesmo; a perspectiva de morrer era encarada como uma possibilidade, quase caracterizava um desejo pelo suicídio.
Ele e sua turma demonstravam um desprezo pela autoridade de seus pais e da polícia. Achavam-se inatingíveis, usavam maconha e álcool. Quase não eram pegos ou presos, embora fumassem maconha em praça pública, sendo vistos por quem passasse, inclusive policiais que não interferiam freqüentemente. E como não 'rodavam' sentiam-se inatingíveis, acima do bem e do mal, sentiam-se num plano acima das instituições de autoridade. Perdiam o respeito e o temor pelo outro e pelo que pudesse lhes acontecer.
Quando se chega a uma desestruturação de funcionamento psíquico e de conduta tão grandes, somada à: conduta delinqüente e uso de drogas... é apenas uma questão de tempo, para vermos respostas de comportamento como as de Pedro Dom, jovem adolescente da classe média carioca, que ficou famoso por assaltar residências explodindo granadas, morto em troca de tiros com a polícia.
Drogas
O inicio do uso de drogas está cada vez mais precoce. E com este envolvimento, além dos seus efeitos deletérios, seu uso faz com que os jovens comecem a questionar os valores de certo e errado. Passam a atravessar a linha do paralelo mundo contraventor e desenvolvem uma nova escala de valores. Mudam seu relacionamento com a família, escola/faculdade e inclusive no figurino, podendo chegar ao ponto de serem confundidos com marginais.
Roubos
Eles roubam não porque precisem de dinheiro simplesmente para a compra de drogas, mas porque esta turma com quem andam, está ligada a um estilo de vida que passa por estas situações. Afinal, o mundo das drogas está ligado ao mundo dos roubos, dos traficantes... Enfim eles passam a fazer parte de dois mundos: o dos traficantes de drogas/roubos e o de sua desorganizada família de origem.
A sociedade, e especialmente os pais, não devem desistir de seus filhos. Trilhar esta estrada em conjunto com os jovens pode não ser fácil. Vão precisar de muita determinação e firmeza.
Quero ressaltar a importância que a família, portanto, que os pais têm na vida de seus filhos. Dialogar, estar presente na vida dos filhos, dar afeto, atenção e educação são pilares que a família terá de desenvolver.
Tenham posicionamentos claros e orgulhem-se deles. Não importa que tamanho de pressão exerça um filho (a) durante o seu desenvolvimento.
Sejam alegres, continentes, mas quando precisarem dizer um não, que o façam sem temor. Não tolerem as situações duvidosas, especialmente as que não concordarem. Seus filhos lhes conhecem e sabem dos valores que acreditam e praticam. Confiem em si mesmos, não digam sim quando querem dizer não. Não aceitem valores que são da moda, do momento, se não concordarem com eles.
Sabe-se que para prevenir situações de delinqüência é fundamental que a família esteja organizada da melhor forma possível, que mantenham a hierarquia, que haja complementaridade entre os pais.
Somente a partir desta troca de energia e funcionamento vinculares é que será possível desenvolver a auto-estima, o respeito e a confiança do jovem por si mesmo, tendo consciência do seu real valor e identidade. E isso tudo não está na infinidade de bens materiais - inclusive drogas - oferecidos pela pós-modernidade consumista onde o 'ser' acaba vindo atrás do 'ter'.Haja auto-estima para quem não consegue acompanhar as ofertas de bens up-to-date. Não sou contra o consumo de bens materiais, independente da quantidade. O importante é não deixar que a busca por esses bens tire o foco de atenção do seu real valor ou abale sua auto-estima.