Ok, já faz tempo que eu gostaria de tratar de alguns temas que vou comentar neste post e acredito que este seja o momento ideal.
Quem me acompanha no Twitter sabe que volta e meia, desço numa livraria aqui próxima do meu trabalho para ver quais são as novidades relacionadas a quadrinhos. Devo confessar que na grande maioria das vezes nunca levo nada, porque o preço dos álbuns de luxo andam bem salgados, mas é sempre legal folhear algumas coisas de qualquer forma.
Pois
bem, esta semana, ao chegar na área de quadrinhos, qual não foi minha
surpresa ao descobrir que a mesma foi… digamos, deslocada para a área INFANTO-JUVENIL!
Exato. É isso mesmo que você leu! Eisner, Crumb, Manara, Spiegelman, Crepax… tudo foi jogado para a área infanto-juvenil, onde a criançadinha pode ler e se divertir a valer.
O
sentimento subsequente a um momento assim, pelo menos pra mim seria o
de chateação ou revolta, mas quer saber… dessa vez alguma coisa mudou.
Uma nova fichinha caiu no meu cérebro e me fez pensar o seguinte:
Mas por que diabos seria diferente?
O que nós fizemos para que as histórias em quadrinhos não fossem consideradas coisa de moleque?
O que nós fizemos para que as histórias em quadrinhos não fossem consideradas coisa de moleque?
Note
bem! Digo “nós” porque também quero deixar clara a minha parcela de
culpa neste cenário. Esta é a primeira vez que vou me colocar na posição
de quadrinista profissional, pois segundo a lógica, “profissional” é
aquele que ganha dinheiro com o ofício e como já ganhei alguns
trocadinhos com os banners aqui do Nanquim na Unha, isso me dá permissão
para entrar na classe. O que eu faço aqui no site não é paçoca afinal
de contas. Eu sou e pronto, quer você goste ou não, certo?
Parando
pra pensar, essa discussão é totalmente boba se levarmos em conta que
se eu dependesse única e exclusivamente de quadrinhos pra viver, estaria
realmente fodido. Artista de história em quadrinhos nem é uma profissão
reconhecida pela grande maioria da população, certo? (em tempo, vale
dizer que a colocação não é minha, mas sim de um artista conhecido meu,
que trabalha ou trabalhou para o mercado americano).
Você pode até ficar indignado e bater o pé nos comentários sobre essa afirmação, mas a realidade é uma só:
Nossa sociedade só vai deixar de ver quadrinhos como coisa de moleque quando eles começarem a gerar DINHEIRO PRA VALER NO NOSSO BOLSO.
As coisas só vão mudar quando a sua história em quadrinhos comprar seu
apartamento, pagar a escola do seu filho, o computador, a conta de luz,
telefone, o mercado e outras coisas que umADULTO DE VERDADE costuma fazer.
A
solução que alguns artistas encontram é abandonar o mercado nacional
(na verdade alguns nem entram nele) para conseguir uma remuneração
decente trabalhando para as gigantes Marvel, DC e similares. Não é culpa
deles. Eu mesmo iria se tivesse oportunidade e você também, pois é lá
onde está o dinheiro de verdade. Idealismo é bonito, mas não dá pra
pagar a conta de luz com ele, meu filho.
O
grande problema é que o destino de boa parte desse pessoal é tentar
retornar ao mercado nacional quando seu estilo fica obsoleto no
exterior. É aí que o bicho pega, pois não existe praticamente nada por
aqui.
A
solução é tentar descolar freelas fixos como ilustrador em agências ou
editoras, ou dar aulas de quadrinhos para novos futuros talentos que
querem… trabalhar para o exterior! E assim temos uma maldita bola de
neve.
Não
pensem vocês que eu esteja desdenhando das soluções que esse pessoal
encontra (mesmo sem ter publicado história em quadrinhos alguma na banca
de jornal, eu mesmo já dei aula de quadrinhos. Sim, isso soa realmente
estúpido, mas acredite… eu não sou o único) mas é triste ver que fora
isso, não existe muita opção e muita gente fica rua da amargura.
Alguns
mais capacitados conseguem abrir estúdios de desenho ou escolas e
ganham até bem, mas é uma minoria. HQ que é bom mesmo ninguém mais faz.
As agências de publicidade pagam bem mais.
Pensando
nisso, eu gostaria de sugerir encarecidamente que estas escolas de
quadrinhos se preocupassem também em ensinar o aluno algumas formas de
administrar sua carreira como quadrinista aqui no Brasil e não apenas a
fazer perspectiva como o Jim Lee ou coisas do tipo. Aliás, melhor ainda!
Você
quer fazer quadrinhos? Então largue o lápis e vá fazer um curso de
administração ou coisa que o valha, talvez seja bem mais útil.
Esse
pessoal que trabalha pra fora é o menor dos problemas. Triste mesmo é a
turma que quer fazer alguma coisa aqui mesmo no país.
O mercado de quadrinhos no Brasil é um bêbado moribundo esperando pra ser empurrado da ladeira.
Nenhum de nós tem conhecimento o suficiente para transformar quadrinhos em um negócio.
Nenhum de nós sabe sequer começar.
Todo mundo só quer saber de desenhar, desenhar e desenhar até ser magicamente descoberto por um alguém invisível que vai torná-lo um milionário, sabe-se lá porque.
O brasileiro é o Yngwie Malmsteen do desenho.
É técnica, hachura, perspectiva olho de peixe, teoria das cores,
firula, firula, firula … mas roteiro que é bom nada… feeling que é bom,
nada…
Sabe
por que isso acontece? Em parte por incompetência em não entender que
não é só de desenho bonito que os quadrinhos vivem e também porque aqui o desenhista desenha para os outros desenhistas baterem palma.
Acredite,
eu sei o que estou falando! Eu sou desenhista! Adoramos ouvir um “puxa…
mas que bela panturrilha você fez! Ela é anatomicamente incrível!”
É
um elogio bem legal, mas entenda que o taxista, a dona de casa, o
português da padaria estão cagando e andando pra sua anatomia perfeita. Eles querem se divertir.
Todo mundo quer ouvir uma boa história, mas sabe por que quem faz quadrinhos no Brasil não consegue fazer isso?
PORQUE UM POVO QUE NÃO GOSTA DE LER, NÃO CONSEGUE ESCREVER DIREITO!
Parece
que os artistas de hoje em dia estão vivendo numa era puramente visual!
(Aliás preste atenção moleque, você que não trabalha e fica aí na
internet bundando, pare de ler esse texto medíocre e vá até a biblioteca
mais próxima! Leia tudo o que conseguir! Depois você não vai ter mais
tempo! Depois vai te fazer falta).
Presos
nesse maldito vortex visual, não observamos o mundo à nossa volta, não
conseguimos entender o que as pessoas querem ler e aí chutamos a torto e
à direito baseado no nosso mundinho de desenhista.
Caímos na mesmisse.
Ninguém
quer ler sua história revolting cocks de moleque. Ninguém quer ler
sobre o sentimento de revolta contra uma ditadura que já terminou nos
anos oitenta, nem sobre a paunocuzisse intelectual da Vila Madalena ou
mais uma versão cover de um herói da Marvel ou DC (afinal, se eu posso
ler o original, pra que vou querer a cópia?).
Aí volta e meia sempre aparece alguém e cita: “Ah, mas nós temos Angeli, Laerte e Glauco!”
Concordo, mas esses caras já gravaram o nome deles na história dos quadrinhos lá nos anos oitenta.
Concordo, mas esses caras já gravaram o nome deles na história dos quadrinhos lá nos anos oitenta.
Até quando vamos viver de Angeli, Laerte e Glauco? Até quando eles vão trocar as nossas fraldas?
Na
verdade eu não sei o que as pessoas querem ler, mas você não é melhor
do que eu, porque também não sabe. É uma sinuca de bico, amigo e não é
fácil mudar esse quadro. Requer tempo, visão, planejamento, trabalho,
dedicação e profissionalismo, coisas que não aprendemos a ter, mas que
podemos tentar aprender de bons exemplos, gente como Inagaki, Interney, Cardoso, Jovem Nerd, Azaghâl e
tantos outros que, se não estão ricos, pelo menos vivem do próprio
negócio. Você pode até não gostar de algum deles, mas eles sabem vender o
peixe, sabem vender seu conteúdo. São exemplos de empreendedorismo que
devemos seguir.
(AAAAAh… você não conhece nenhum desses caras, né? Não, claro que não… você só conhece o Alan Moore).
Veja só o que os nerds fizeram com ” A batalha do Apocalipse“! Veja só que PUTA sucesso estrondoso!
PROFISSIONAL! SÉRIO! MERECIDO! EXEMPLAR!
Os
probloggers e podcasters dão um cacete na gente em termos de
profissionalismo e empreendedorismo e nem sabemos de onde a paulada
veio! Nós com nossos Deviantarts e fotologs… ppppffffffffff.
Eles
não precisam de editora, não precisam de rádio, eles não precisam de
nada. Eles fazem acontecer enquanto nós fazemos… perspectiva.
NÓS TAMBÉM NÃO PRECISAMOS DE EDITORAS!
Entra
ano, sai ano e é a tudo a mesma coisa. Praticamente quase todo o
mercado nacional de quadrinhos que realmente importa ainda é movimentado
graças a um único sujeito: MAURICIO DE SOUSA.
Durante todos esses anos, o Mauricio fez muito mais do que nos mostrar qual era o caminho.
Ele ESFREGOU NA NOSSA CARA qual era o caminho, mas nós insistimos em não aprender.
Ele ESFREGOU NA NOSSA CARA qual era o caminho, mas nós insistimos em não aprender.
Ele soube procurar gente como Sidney Gusman, Marcelo Cassaro e outros para entender o que o público de hoje queria e como recompensa emplacou “Turma da Mônica Jovem“,
o maior fenômeno de venda nacional de quadrinhos nos últimos tempos. De
quebra, o sujeito ainda abre espaço para diversos artistas nacionais
com os três MSP50.
Se você não entendeu a situação, eu vou traduzir:
Um senhor de 75 anos ainda é o mais revolucionário autor de quadrinhos no Brasil da atualidade!
POR QUE DIABOS NÓS AINDA NÃO APRENDEMOS?
O
pior de tudo é ainda ter que ouvir gente dizendo “Ahh, o Mauricio não
ajuda os outros”, “O Mauricio não colabora com o mercado” “O Mauricio
não faz o mercado crescer”.
O que você quer, meu amigo? Que o Mauricio de Sousa limpe o seu popôzinho incompreendido?
Toma tua linha vagabundo e corra atrás do seu sonho sem jogar a culpa pelo que não deu certo nas costas dos outros.
Infelizmente
dessa vez eu não vou culpar a ignorãncia da sociedade ou de uma
livraria por considerar quadrinhos coisa de moleque. VOU CULPAR TODOS NÓS,
desenhistas, roteiristas, editores e todos que trabalham com quadrinhos
no Brasil, pois nós não conseguimos fazer absolutamente NADA para mudar esse quadro.
Este quadro é um tapa na cara do quadrinho nacional!
Que vergonha…